Os três problemas clássicos da Geometria grega eram sobre como realizar uma construção geométrica usando somente régua e compasso. Tratavam-se dos seguintes problemas:
Vamos ver os dois primeiros problemas com algum detalhe; o terceiro já tem a sua própria página. Mas antes disso, vejamos o que se quer dizer exactamente com «construir usando apenas régua e compasso».
As construções com régua e compasso são frequentemente designadas por «construções euclidianas», pelo que poderá ser uma surpresa para algumas pessoas constatar que os termos «régua» e «compasso» não surgem nos Elementos de Euclides. De facto, Euclides só usa as expressões «construir um segmento», «prolongar um segmento» e «construir uma circunferência», sem mencionar os instrumentos a utilizar para se obterem efectivamente tais construções. Mas é fácil ver que as regras estipuladas por Euclides equivalem ao uso da régua e do compasso de acordo com as seguintes regras:
Vejamos o que não se pode fazer com régua e compasso. Se a régua tiver pontos marcados (ou seja, se for uma régua graduada), estes não podem usados nas construções. Esta restrição não é trivial, como será visto mais à frente. Quanto ao compasso, este não pode ser usado para transportar distâncias (é aquilo que se designa por uma compasso «de pontas caídas», ou seja, é como se se fechasse assim que é levantado do papel). Ao contrário da restrição relativa à régua, esta não é relevante, pois a segunda proposição dos Elementos explica como transportar distâncias seguindo as regras euclidianas.
Este problema poderá, à primeira vista, parecer ter uma natureza distinta da dos restantes dois, pois trata-se de um problema de Geometria no espaço, enquanto que os outros são problemas de Geometria plana. De facto, o que se quer aqui é, dado um segmento de recta, que deve ser encarado como uma aresta de um cubo, construir com régua e compasso um segmento tal que um cubo que tenha esse segmento como aresta tenha o dobro do volume do cubo inicial. Não é difícil ver que o comprimento deste último segmento deverá ser igual ao do segmento inicial multiplicado por ³√ .
Na Grécia antiga sabia-se como bissectar qualquer ângulo com régua e compasso. O método era o seguinte:
Desloque o ponto D e veja como os ângulos ∠AOC e ∠COB têm a mesma amplitude, a qual é, portanto, metade da amplitude do ângulo ∠AOB.
Em termos de construção com régua e compasso, isto corresponde ao seguinte:
A semi-recta com origem no vértice do ângulo e que passa por C divide então o ângulo em dois ângulos com a mesma amplitude.
O problema que surge naturalmente após o da bissecção é o da trissecção. Os gregos sabiam trissectar alguns ângulos (90°, por exemplo), mas não conheciam um método que funcionasse para todos. Hoje em dia sabe-se que, por exemplo, um ângulo de 60° não pode ser trissectado usando apenas régua e compasso. Por outro lado, Arquimedes descobriu um processo de trissectar qualquer ângulo usando apenas régua graduada e compasso e, de facto, basta para isso que a régua tenha dois pontos marcados. Eis a construção de Arquimedes:
Desloque o ponto B e, em seguida, desloque o ponto C até que o ponto D esteja situado na circunferência. Então o ângulo ∠ACB terá um terço da amplitude do ângulo ∠AOB.
Em termos de construção com régua graduada (mais precisamente, com dois pontos marcados) e compasso, isto corresponde ao seguinte:
Então o ângulo ∠ACB tem um terço da amplitude do ângulo ∠AOB.
Data da última actualização deste documento: 2004–07–18
Autor: José Carlos Santos