1.ª mulher doutorada pela Universidade do Porto
Antropóloga, Bióloga e Professora Universitária
Leopoldina Ferreira Paulo nasceu a 12 de janeiro de 1908, na freguesia da Vitória, no Porto.
Era filha de Zeferino Fernandes Paulo, empregado público, e de Leopoldina Ribeiro Ferreira Paulo, doméstica.
Entre 1928 e 1933 frequentou a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), licenciando-se em Ciências Histórico-Naturais a 7 de novembro de 1933. A licenciatura foi concluída com 16 valores. Durante esse período, frequentou e concluiu o Curso de Habilitação para Professor de Desenho do 9.º grupo dos Liceus (1930-1933) e, mais ou menos em simultâneo, cursou Estética e História de Arte na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1930-1931), Desenho de Figura, Desenho de Estátua, Desenho de Modelo Vivo, Desenho de Ornato, Modelação e Estilização na Escola de Belas Artes do Porto (1931-1933) e Desenho Rigoroso na Faculdade de Ciências. No ano letivo de 1934-35 matriculou-se no Curso de Ciências Pedagógicas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que concluiu com 15 valores.
Na Universidade do Pôrto vai doutorar-se em Ciências uma senhora – facto inédito na vida académica da nossa terra
Jornal de Notícias
21 de novembro de 1944
A 23 de novembro de 1944 Leopoldina Ferreira Paulo tornou-se a primeira mulher doutorada pela Universidade do Porto, após defesa da tese intitulada “Alguns caracteres morfológicos da mão nos portugueses”. Sob a arguência de António Luiz Machado Guimarães (1883-1969) e de António Augusto Esteves Mendes Corrêa (1888-1960), foi assim aprovada por maioria no Doutoramento em Ciências Histórico-Naturais. Juntamente com mais 6 doutores pela U.Porto – Judite dos Santos Pereira, Joaquim Rodrigues Santos Júnior, Jayme Rios de Sousa e Arnaldo da Fonseca Roseira (Faculdade de Ciências), Joaquim Sarmento (Faculdade de Engenharia) e José Ramos Pereira (Faculdade de Farmácia) -, viria a ser imposta com as insígnias doutorais numa cerimónia realizada a 14 de junho de 1945.
A sua carreira de docente universitária iniciou-se muito antes do seu doutoramento. A 17 de julho de 1935 é nomeada para o cargo de assistente do 3.º grupo (Zoologia e Antropologia) da 3.ª secção (Ciências Histórico-Naturais) da FCUP, tendo sido reconduzida no lugar em 5 de julho de 1938 e em 8 de agosto de 1941. Em 1944 vem a assumir as funções de 2.ª assistente, tendo sido contratada para o exercício das funções de 1.ª assistente em 1945.
Já em 1970 assume as funções de professora auxiliar e posteriormente de professora agregada do 3.º grupo da 3.ª secção da Faculdade de Ciências. Em 1971 é contratada como professora agregada além do quadro, e em 1972 (despacho de 31 de dezembro) como professora extraordinária, título para o qual é nomeada definitivamente em 1975.
Após a conclusão do seu doutoramento, foi autorizada a reger as aulas teóricas de Ecologia Animal (1945), de Anatomia e Fisiologia Comparadas (1953-1955 e 1959-1966), de Antropologia (1955 e 1958), de Fisiologia Animal (1966-1968 e 1970), de Fisiologia Animal Complementar (1967–1969), de Vertebrados (1969), de Adenologia (1969), e de Anatomia Comparada (1969). Foi ainda várias vezes nomeada para a composição de júris dos exames de aptidão para a primeira matrícula nas Universidades, pela Faculdade de Ciência (1959- 1968).
Aposentou-se da carreira docente em 1976.
Ao longo da carreira académica, Leopoldina Ferreira Paulo fez investigação na área da antropologia sobre os povos das ex-colónias, sob a direção de Mendes Corrêa. Realizou viagens de estudo a museus belgas, alemães e franceses entre 1936 e 1939. Participou na Missão Antropológica e Etnológica da Guiné (1946-1947) e nos trabalhos do Gabinete do Centro de Antropologia da Junta do Ultramar. Em 1969 estagiou nos institutos de Zoologia de Paris e Hamburgo.
Publicou numerosos trabalhos científicos e participou em diversos encontros científicos: em 1934, no Congresso Nacional de Antropologia Colonial que teve lugar no Porto; em 1937, na reunião da Sociedade Anatómica, em Coimbra; em 1940, no Congresso de Pré-história e Proto-história que decorreu em Lisboa e no Congresso Nacional das Ciências da População, que teve lugar no Porto; em 1941, no Congresso das Ciências Naturais, em Lisboa; em 1956 e 1959, no Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências (Coimbra e Málaga, respetivamente). Tornou-se ainda sócia efetiva da Associação de Filosofia Natural (Porto) a 16 de maio de 1933.
Faleceu a 17 de novembro de 1996, aos 88 anos, na freguesia de Campanhã, no Porto.
Encontra-se sepultada no Cemitério de Agramonte, no Porto.