2.ª mulher doutorada pela Universidade do Porto
Geóloga e Professora Universitária
Judite dos Santos Pereira nasceu a 19 de junho de 1906, na freguesia e concelho de Moimenta da Beira, distrito de Viseu.
Era filha de Manoel Bernardo Pereira Júnior, negociante, e de Maria da Purificação Santos, professora oficial naquela vila.
Em 1919, 1921 e 1923 realizou provas correspondentes à 1.ª, 3.ª e 5.ª classes no Liceu Latino Coelho, em Lamego, e no Liceu Carolina Michaëlis, no Porto. Em 1926 concluiu o curso do liceu (7.ª classe de Ciências), com distinção – 16 valores –, no Liceu Alexandre Herculano, no Porto.
Veio a licenciar-se, quatro anos depois, a 20 de outubro de 1930, em Ciências Histórico-Naturais, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), com a classificação de 16 valores.
Na Universidade do Pôrto – sete novos doutores de borla e capelo foram investidos ontem, solenemente, numa cerimónia extraordinàriamente concorrida
Jornal de Notícias
15 de junho de 1945
A 25 de janeiro de 1945, Judite dos Santos Pereira tornou-se a segunda mulher doutorada pela Universidade do Porto, após defesa da tese intitulada “Formações portuguesas com haloïsite, caulinite ou montmorilonite”. Sob a arguência de Domingos José Rosas da Silva (1896-1967) e de João Carrington Simões da Costa (1891-1982), foi assim aprovada por unanimidade no Doutoramento em Ciências Histórico-Naturais. Juntamente com mais seis doutores da U.Porto – Leopoldina Ferreira Paulo, Joaquim Rodrigues Santos Júnior, Jayme Rios de Sousa e Arnaldo da Fonseca Roseira (Faculdade de Ciências), Joaquim Sarmento (Faculdade de Engenharia) e José Ramos Pereira (Faculdade de Farmácia) -, viria a ser imposta com as insígnias doutorais numa cerimónia realizada a 14 de junho de 1945.
Judite dos Santos Pereira iniciou o seu percurso profissional como docente universitária em 1931, após nomeação como assistente livre do 1.º grupo (Mineralogia e Geologia) da 3.ª secção (Ciências Histórico-Naturais) da Faculdade de Ciências. Em 1932 foi nomeada como assistente extraordinária do mesmo grupo e da mesma secção, tendo sido contratada, um ano depois, para o lugar de assistente, estatuto renovado em 1934 e para o qual é igualmente reconduzida em 1937 e em 1940. Em 1943 foi aprovado o termo de contrato para o exercício de funções de segundo-assistente.
Após o seu doutoramento, foi contratada para as funções de primeira-assistente, tomando posse a 17 de março de 1945. Ascendeu à categoria de professora auxiliar a 2 de julho de 1970.
Nas décadas de 50 e 60 do século XX foi responsável pela regência das aulas teóricas de Cristalografia (1952, 1959, 1960-1964 e 1966), de Paleontologia (1953-1959 e 1961-1962), de Geologia (1954 e 1955), de Geomorfologia (1956 e 1960), de Mineralogia e Geologia Gerais (1967 e 1968), de Cristalografia e Mineralogia (1967 e 1968).
A sua carreira profissional foi ponteada por numerosos períodos de ausência do serviço da FCUP, por doença ou para tratamento, acabando por se aposentar a 28 de junho de 1972, pela Junta Médica da Caixa Geral de Aposentações, considerada “incapaz de continuar no exercício das suas funções”.
Como investigadora, debruçou-se sobre a área das rochas indígenas portuguesas, editando trabalhos no âmbito do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências e da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais. No período de preparação de parte da sua tese de doutoramento, especializou-se nas formações portuguesas de caulinite, como bolseira, em Madrid.
Foi bolseira do Instituto para a Alta Cultura entre 1941 e 1942, e participou no I Congresso Nacional de Ciências Naturais (Lisboa, 1941), no Congresso Luso-Espanhol (Porto, 1942) e na 2.ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais (Bissau, 1947).
Faleceu a 22 de novembro de 1975, aos 69 anos, na freguesia de Santo Ildefonso, no Porto.