Memória Scientífica

maria leite da silva tavares paes moreira

1.ª mulher matriculada como aluna na Academia Politécnica do Porto – antecessora da FCUP
Médica 

Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira nasceu a 21 de janeiro de 1858, na freguesia da Canedo, concelho da Feira.
Era filha de Manoel José Paes Moreira, da Casa da Botica, e de Emília Leite da Silva Tavares.
 

Iniciou os seus estudos na Academia Politécnica do Porto, com 27 anos de idade, no ano letivo de 1884-85, matriculando-se na 8.ª e na 9 ª cadeira: Física Teórica e Experimental e Química Mineral, cujos lentes eram o Dr. Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão, conde de Campo Belo (1847-1907) e o Dr. José Diogo Arroyo (1854-1925), respetivamente. 

Foi assim a primeira mulher a matricular-se no Ensino Superior na cidade do Porto 

As cadeiras escolhidas faziam parte dos preparatórios para ingresso na Escola Médico-Cirúrgica. Dada a reforma dos estudos da Academia Politécnica por força do decreto de 10 de setembro do ano seguinte, os preparatórios passam a ser compostos por cinco cadeiras. As restantes três – Química Orgânica (da responsabilidade do Dr. António Joaquim Ferreira da Silva (1853-1923)), Botânica (cujo lente era o Dr. Francisco Salles Gomes Cardoso (1816-1891)) e Zoologia (da responsabilidade do Dr. Manuel Amândio Gonçalves (1861-1928)) – foram realizadas no ano letivo seguinte, 1885-86. Nas duas últimas, Maria Paes Moreira obteve distinção. 

Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira envergando o traje e as insígnias académicas. _Coleção: Biblioteca da FCUP
Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira envergando o traje e as insígnias académicas. _Coleção: Biblioteca da FCUP
"Hygiene da Gravidez e do Parto" - dissertação inaugural apresentada por Maria Leite Tavares da Silva Moreira à Escola Médico-Cirúrgica. _Coleção: Biblioteca da FMUP

A nossa vida é sempre um mixto de prazer, de dôr e soffrimento. Cada minuto que decorre, cada sol que se extingue e cada alvorecer que desponta, ou nos traz um desengano ou nos leva uma esperança.”

Excerto da dedicatória de Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira à sua mãe, na sua dissertação inaugural “Hygiene da Gravidez e do Parto”.

A 10 de setembro de 1886, já com 29 anos de idade, matricula-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Conclui o curso cinco anos depois, em 1891. O currículo foi composto pelas doze seguintes cadeiras: 

  • 1.º ano – Anatomia 
  • 2.º ano – Fisiologia; 
  • 3.º ano – Matéria Médica, Anatomia Patológica e Patologia Geral; 
  • 4.º ano – Patologia e Terapêutica Externas, Operações e Patologia Interna; 
  • 5.º ano – Partos, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Higiene e Medicina Legal. 

Durante todo esse período, Maria Paes Moreira partilhou os estudos com as irmãs Morais Sarmento, Laurinda e Amélia, igualmente pioneiras nesta instituição de ensino. Nos exames realizados, ambas ficaram sempre “aprovadas plenamente”. O curso terminava com a apresentação de uma dissertação inaugural, o chamado “Ato Grande”. A então estudante obteve “aprovação plena” na dissertação “Hygiene da gravidez e do parto”, a 11 de julho de 1892, tendo como orientador e diretor de tese o médico Cândido de Pinho (1853-1919). 

Maria Paes Moreira terá desenvolvido a sua carreira profissional, por vários anos, na cidade do Porto, tendo estabelecido consultório no Largo de São João Novo, n.º 2. Desempenhou também funções de Clínica Auxiliar no Hospital Geral de Santo António, após concurso aberto em 1894. 

Dedicada à sua profissão, veio a ser médica da Rainha D. Amélia, e crê-se que devido a trabalhos prestados, esta lhe ofereceu, numa atitude de gratidão e generosidade, um relógio de peito em ouro, conservado pela família Pais Moreira. 

Pormenor da página 97 do Annuario da Academia Polytechnica do Porto: Anno Lectivo de 1884-1885 (oitavo anno). Na lista de alunos inscritos no ano letivo 1884-1885, o nome de Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira aparece redigido como se a mesma se tratasse de um estudante do sexo masculino, por desconhecimento do tipógrafo. _Coleção: Arquivo da Reitoria da Universidade do Porto

No final da sua vida profissional, regressou a Canedo. Aí instituiu um “Salão Cultural” semelhante ao Salão Literário de Maria Amália Vaz de Carvalho em Lisboa, ponto de passagem das sumidades literárias e políticas do tempo. 

Faleceu em 1941

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