PEEC Views | André Rebelo Soares: a física dos materiais magnetocalóricos

André Rebelo Soares, estudante do 2º ano do mestrado em Engenharia Física, queria saber como era trabalhar em investigação e foi, de forma proativa, à procura de um estágio no âmbito do Programa de Estágios Extracurriculares da FCUP. Estreou-se na investigação, no IFIMUP – Instituto de Física de Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica, ainda na licenciatura, no ano letivo 2022/2023, e quis repetir a experiência, no ano seguinte, já no mestrado. 

Este jovem natural dos Açores apaixonou-se pelo potencial dos materiais magnetocalóricos e a atração pelo trabalho em laboratório já deu frutos: tem já tema de investigação para a dissertação e segue, lado a lado, com os mentores do PEEC que o acompanham desde o início. 

Conheçam-no no PEEC Views, uma nova rubrica de entrevistas para mostrar o trabalho dos nossos estudantes no âmbito deste programa de estágios que, há mais de 10 anos, abre portas e caminhos ao mundo da investigação em ciências nas suas várias vertentes. 

Porque escolheu frequentar o programa PEEC?

Fiz o mesmo PEEC em dois anos consecutivos. No 3º ano da licenciatura [em engenharia física] fiz o PEEC e depois no 1º ano do mestrado continuei. Já tinha ouvido falar deste programa através de alguns amigos, que me tinham contado a experiência deles, e queria fazer um estágio também para perceber como é que era o ambiente de investigação, como era trabalhar num laboratório e perceber quais as áreas de investigação que existem. 

Era uma forma de perceber o que gosto ou não porque a física tem imensas áreas desde a ótica e fotónica à física médica, por exemplo. Fui à plataforma do Infociências onde estão registados os PEEC, fiz uma lista com aqueles que mais gostava, e fui contactar os professores e saber se estavam disponíveis e se ainda tinham vagas. Recebi muitos “nãos”. Havia muitos PEEC que não tinham vaga, até que falei com o Professor João [Horta Belo], cujas propostas PEEC também já não tinham vaga, mas que era coorientador de um PEEC que poderia ter. Foi então que falei com o investigador Gonçalo e fiquei com o trabalho. 

Em que consistiu o trabalho desenvolvido e quais os principais resultados?

O meu trabalho foi otimizar materiais, que por si só já têm um efeito magnetocalórico, ou seja, quando é aplicado um campo magnético mudam de temperatura. O meu objetivo foi, em laboratório, melhorar o desempenho desses materiais, no seguimento de uma proposta inicial do meu orientador. Num artigo, os investigadores demonstravam que o índio aumentava bastante as propriedades de um material magnetocalórico, então, originalmente, adicionei índio ao material que estava a estudar e tentamos estudar esse efeito. Este foi o meu primeiro ano de PEEC. No meu segundo ano de PEEC, já tive um pouco mais de autonomia para ver artigos por minha iniciativa e propor uma ideia e então propus algo semelhante, mas com níquel, um outro elemento. Este novo material deu bastante resultado e estamos a estuda-lo agora com maior detalhe. 

Neste momento, estamos com um trabalho em que moemos e sintetizamos o material até ter grãos muito, mas muito pequenos e a nossa ideia é estudar o efeito magnetocalórico em função dos diferentes tamanhos que o material tem. É um trabalho que nunca foi feito e estamos a avançar com a sua realização. 

Entretanto, estou a começar a trabalhar na minha dissertação de mestrado, com os meus orientadores do PEEC, mas é num tema bastante diferente, ainda que relacionado também com os materiais magnetocalóricos.

Propuseram manter a mesma proposta PEEC em que trabalhei, com vaga aberta para outro estudante e eu poder ajudar na sua orientação. 

Que mais-valias trouxe o PEEC para o seu percurso académico?

Os meus orientadores sempre me deram muita flexibilidade para dar prioridade às aulas. Tínhamos um horário fixo, que era na quinta-feira à tarde, mas era muito flexível. Se estivesse mais ocupado não ia, mas depois se fosse preciso estava uma semana quase toda no laboratório e dedicava-me mais. No início, no primeiro PEEC ainda estava a aprender e dependia muito da presença dos meus orientadores para perceber como se fazia. No segundo, já vinha para o laboratório sozinho e depois só mandava uma mensagem a relatar o trabalho que tinha feito. 

Quais as mais-valias do PEEC para os estudantes?

Traz imensos benefícios. É uma forma de introduzir ao estudante uma área de investigação que a faculdade tem. O PEEC dá-nos uma boa visão do que é trabalhar nas diferentes áreas da ciência. Dá-nos uma perspetiva muito boa sobre o que é a investigação, ler um artigo, tentar propor trabalho e dá também autonomia. Para além disso, podemos já estar a trabalhar num tema que até pode vir a ser uma dissertação de mestrado. No PEEC, aprendi, por exemplo, como se sintetiza e caracteriza um material e isso é algo que é universal. Posso não estar a fazer o meu trabalho de dissertação neste tema, mas sei como trabalhar num laboratório, como ler um artigo e o que esperar.

Que conselhos dá aos estudantes que pretendam candidatar-se a este programa? 

Estar motivado e interessado num tema é meio caminho andado. Procurava artigos e vinha para o laboratório por gosto e não por obrigação. É importante definir prazos e objetivos. Acho que isso ajuda. Pelo menos a mim ajudou-me bastante. 

[As candidaturas ao programa PEEC para o ano letivo 2024/2025 estão abertas de 28 de outubro a 15 de novembro.]

Por Renata Silva / FCUP