O trabalho está a ser desenvolvido em projetos de investigação conjuntos da FCUP, em conjunto com o i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo o mundo, com uma estimativa de 20.5 milhões de mortes/ano. Para evitar o bloqueio das artérias que irrigam o coração, é aplicado um stent, como procedimento padrão que vai permitir a desobstrução da artéria. Mas, em mais de 30% dos casos existem complicações pós-implante, com o stent a ser rejeitado pelo próprio corpo. Este é um processo invisível e que leva à possibilidade de novos acidentes cardiovasculares. Com novos sensores que estão a ser desenvolvidos na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) será possível preveni-los e salvar vidas.
Tratam-se de stents inteligentes, desenvolvidos no IFIMUP – Instituto de Física de Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica na FCUP em colaboração com o i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, que têm como base nanomateriais com propriedades piroelétricas, ou seja, que produzem energia em função de variações da temperatura. São então as alterações no fluxo sanguíneo e as flutuações térmicas locais que ajudam a prever quando é que o corpo começa a rejeitar o stent e há risco de um novo acidente cardiovascular.
“Quando estes eventos ocorrem, há uma variação de temperatura e estes materiais são mesmo muito sensíveis a estas variações”, explica Mariana Rocha, investigadora principal do projeto.
Com estes sensores, stents inteligentes mergulhados numa tinta inovadora e funcional composta por nanomateriais piroelétricos, o objetivo da equipa é que seja feita uma monitorização 24 horas por dia. “O médico ou até o próprio paciente teria uma aplicação no telemóvel, por exemplo, para receber os dados e notificações e assim ter tempo de marcar consulta para que possa ser medicado, geralmente com anticoagulantes, prevenindo complicações”, detalha.
Protótipo de stent realizado nos laboratórios do IFIMUP com um sensor no seu interior. Foto: SIC.FCUP
Os investigadores do IFIMUP e do i3S simularam o processo de coagulação do sangue e verificaram a eficácia deste sensor. A produção de protótipo e os testes realizados à escala laboratorial foram os resultados do projeto exploratório Pyro4Cardio, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Este projeto que tem sido desenvolvido em estreita colaboração com o i3S, com intercâmbio de investigadores e estudantes de mestrado entre os dois laboratórios.
Num novo projeto também liderado pela FCUP em parceria com i3S, a decorrer nos próximos três anos, os investigadores continuarão a testar e aprimorar estes stents inteligentes em sistemas que reproduzem o fluxo sanguíneo e o batimento cardíaco fisiológicos. “Queremos provocar localmente a coagulação do sangue para a formação dos trombos e ver se o sensor é sensível e consegue avisar”, concretiza Mariana Rocha.
Os cientistas da FCUP estão ainda a fazer testes para perceber a que distância conseguem enviar o sinal de wireless, dado que o mesmo terá de ultrapassar a barreira do corpo.
O projeto PyroSENSE, financiado em 250 mil euros, tem como parceiro o i3S, continuando este trabalho conjunto com as investigadoras Andreia Trindade Pereira e Inês Gonçalves.