Vai para o espaço, no próximo mês de março, à boleia da Space X, um Cubesat com a colaboração da FCUP.
A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) integra o consórcio do projeto AEROS Constellation, prestes a lançar para o espaço, à boleia de um Falcon 9, da SpaceX, um nano satélite (Cubesat) desenvolvido em Portugal. Com ele, os cientistas ganham um novo aliado para a oceanografia e para o estudo das alterações climáticas.
É com conhecimento científico que a FCUP se junta a empresas e outras universidades nesta iniciativa. “Descobrimos que havia uma indústria emergente de pequenos satélites, cujo lançamento era acessível tanto do ponto de vista da instrumentação, como do lançamento”, conta Orfeu Bertolami, docente que representa a FCUP neste projeto. As descobertas estão num artigo do qual foi coautor, publicado, em 2016, na revista Acta Astronautica, e deram mote à tese de doutoramento em Física de André Guerra, sobre a utilização de satélites na oceanografia. “Uma área muito próxima a Portugal, mas da qual muito pouco se sabia”.
Depois de terminar o doutoramento no âmbito do programa doutoral conjunto da Universidade do Porto, Universidade do Minho e Universidade de Aveiro (MAP-fis), André Guerra foi convidado para trabalhar no CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento). Uma oportunidade para pôr em prática o que estudou. Quando surgiu uma chamada para projetos do MIT Portugal, foi um dos autores do AEROS Constellation que agora culmina com o lançamento do cubeSat para o espaço, pela SpaceX, no próximo mês de março. Este será também o primeiro satélite da futura Constelação do Atlântico a entrar em órbita.
Modelo para mapear a salinidade da superfície do mar made in FCUP
O agora professor convidado no Departamento de Física e Astronomia da FCUP não tem dúvidas de que esta é uma “ferramenta do futuro”. Uma das maiores vantagens é o facto de conseguir combinar, num satélite com as suas dimensões, um conjunto de diferentes instrumentos que fazem dele uma solução versátil e barata. Por exemplo, descreve Orfeu Bertolami, que foi orientador de André, “tem uma câmara hiperespectral, que é uma espécie de máquina fotográfica que tira fotografias em diferentes comprimentos de onda”. Desta forma, entre outros aspetos, será possível enriquecer os dados disponíveis sobre as diferentes cores refletidas na massa de água, importantes para monitorizar alterações nos ecossistemas.
A pensar no potencial dos nano satélites, e no âmbito do mestrado em Deteção Remota, Rute Santos, desenvolveu, na FCUP, um modelo para auxiliar no mapeamento da salinidade da superfície do mar (SSS, na sigla em inglês). Um aspeto importante para “entender as correntes oceânicas, o clima e as trocas de água doce, bem como para entender a acidificação dos oceanos e o seu impacto”, refere a dissertação que defendeu em 2022.
Para além da recolha de dados sobre as alterações no oceano, este nano satélite poderá ainda monitorizar o tráfego marítimo e até espécies de animais e o seu comportamento. À medida que forem acrescentados novos satélites à constelação será possível revisitar com mais frequência as mesmas áreas e ter mais informação em tempo real sobre os vários parâmetros analisados.
O AEROS Constellation, liderado pela empresa Thales Edisoft, teve início em 2020 e integra também as instituições IMAR, CEiiA, Air Centre, Spinworks, dstelecom, +Atlantic, e também o IST e as Universidades do Minho, do Porto (representada pela FCUP), de Lisboa e do Algarve.
FOTO: CEIIA. Construído no CEiiA, o AEROS é um nano satélite ‘made in’ Portugal e que irá ser lançado para o espaço no próximo mês de março.