Ferreira da Silva | Química para a vida, uma vida de química.
Ferreira da Silva / Química para a vida, uma vida de química 84 (…) Este conceito estreito, erróneo [da ciência tida como obra estéril, entretenimento de luxo e de curiosidade] que tememmenosprezo o trabalho científico de investigação e os serviços por ele prestados à sociedade, desapareceu certamente na massa geral dos países cultos; mas há ainda muita gente que não compreende a importância primacial da cultura científica na época presente, e de si para si entende que ela se faça, quando possa ser, mas que não é imprescindível. A ciência (...) não é, não, um entretenimento estéril: é um poder que mais alto se levanta no mundo de hoje, é a alma da prosperidade das nações, a fonte viva de todo o progresso, acrescentando, por um modo nunca sonhado, a riqueza nacional e particular, pelo aproveitamento, cada vez mais extenso, das energias e forças naturais. Mas a ciência não deve encarar-se só por este lado utilitário: a ciência é também educadora, emancipadora e colaboradora da aliança e paz universais. Para os povos sonhadores, aventureiros, românticos ou idealistas (e talvez tenhamos um pouco de tudo isto), nada mais próprio para disciplinar o espírito do que os ensinamentos da realidade, revelados pela observação dos seres e factos naturais e pela experiência; assim se retificam preconceitos e se corrigem perniciosas inclinações de ânimo. A verdadeira liberdade de pensamento é a liberdade absoluta da investigação, o direito inviolável de concluir sobre o que é verdadeiramente acessível à evidência, e conformar com isso a nossa opinião, independentemente de toda a autoridade, de toda a ideia preconcebida, de qualquer fanatismo ou superstição. A ciência procura o que é , sem se inquietar um momento com as consequências filosóficas que derivam das suas descobertas, nem com as dificuldades que possa levantar; os sistemas e as doutrinas têm que subordinar-se aos factos. A ciência verdadeira é, pois, a escola do livre pensamento e, como tal, eminentemente emancipadora. 8.1. “A importância e dignidade da sciência e as exigências da cultura scientífica” Oração de Sapiência proferida na Sessão Solene de abertura do ano letivo de 1911-1912 (1 de novembro de 1911)
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