Ferreira da Silva | Química para a vida, uma vida de química.

Ferreira da Silva / Química para a vida, uma vida de química 68 Em 1904, o Laboratório Municipal foi sujeito a mais obras de ampliação. Construiu-se um piso superior, destinado a uma secção bacteriológica (o Laboratório Municipal de Bacteriologia, sob a gestão do médico e professor da Escola Médico-Cirúrgica Ricardo Jorge, havia funcionado desde 1891 numa casa mesmo ao lado, com entrada pelo mesmo portão e jardim frontal, existindo até uma porta de comunicação no gabinete de Ferreira da Silva). A outra grande alteração residiu na instalação da biblioteca num espaço próprio, independente do gabinete do diretor. Esta havia crescido de forma apreciável, sendo nesta altura considerada a melhor e mais completa biblioteca do país em matéria de análise química. Em 25 de abril de 1907, tudo se desmoronou. Num artigo de duas páginas publicado no primeiro número de 1908 da Revista de Chimica Pura e Applicada , com muita mágoa e revolta, Ferreira da Silva escreve sobre a extinção, sem apelo nem agravo, do Laboratório, em sessão da Câmara Municipal meses antes. Desde então, Ferreira da Silva empenhara-se – e empenhar-se-ia nos anos seguintes - em refutar as acusações de irregularidades na administração e gastos excessivos, apresentando a impressionante folha de serviços do mesmo. No fim deste artigo, aponta os verdadeiros motivos da extinção: uma perseguição pessoal e diferentes cores políticas. De facto, os vereadores então em A extinção do Laboratório Químico Municipal e consequências para o Laboratório Químico da Academia funções eram, na sua maioria, republicanos, sendo Ferreira da Silva monárquico (o título de Conselheiro de Sua Majestade fora-lhe concedido em retribuição pelos serviços ao país no caso da suposta salicilagem dos vinhos portugueses) bem como um católico publicamente interventivo. Foram anos dolorosos. Contudo, a demolição, iniciada em 1917, de edifícios na baixa do Porto (entre os quais se incluía o do Laboratório), com vista à construção dos novos Paços do Conselho e à abertura da Avenida dos Aliados, poria fim ao processo que correra em tribunais de várias instâncias, opondo Ferreira da Silva à Câmara Municipal. Como sempre fazia, Ferreira da Silva compilaria num volume todos os documentos relativos ao assunto produzidos entre 1908 e 1916, para completo esclarecimento do leitor: ofícios, requerimentos e recursos emanados dele próprio, da Câmara Municipal ou dos tribunais. Terminou com a decisão da edilidade em funções em 1917, de o reintegrar como funcionário municipal, pagando-lhe 80 meses de vencimentos; de o reconduzir no lugar de diretor do Posto Fotométrico; finalmente, de lhe atribuir a regência de um curso de Química Aplicada em colaboração com a agora Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que recebera todo o acervo de instrumentos, reagentes e livros do Laboratório.

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